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sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Um brinde ao futuro

Tornar a água uma picuinha partidária é uma insanidade e colocar a culpa em São Pedro é uma covardia.

Por Max Velati*

Dois temas para guardar.

Um indivíduo em boas condições físicas consegue ficar até cinco dias sem água. Perderá gradativamente as funções e os sentidos e no quarto ou quinto dia estará morto. Isso não é uma teoria, mas um fato biológico. Sem água, duramos menos de uma semana. Ponto.
O segundo tema é Política.

No dicionário aprendemos que se trata da arte de governar os Estados e regular as relações que existem entre eles. Também é a habilidade no trato das relações humanas com o fim de se obter algo que se deseja. E ainda significa astúcia e esperteza, como bem sabemos.

Navegando pelas redes sociais, lendo os jornais e olhando ao redor, fui levado a me perguntar com toda a sinceridade: será que queremos mesmo viver em sociedade?

Se criamos a Política para regular as relações de poder entre Estados e indivíduos, certamente não foi para o bem comum; foi só pelo bem de alguns indivíduos. E este processo está tão doente, tão infectado que vamos ter agora que beber água de esgoto. Não é força de expressão ou metáfora, mas um fato. Os jornais desta semana informam que o governo de São Paulo está considerando tratar o esgoto para consumo. Não me venham dizer que é pela falta de chuva ou, mais absurdo ainda, que é culpa da prefeitura, do governo do Estado ou do governo Federal. Todos falharam no planejamento. Este é o problema. Tratar esta questão como disputa política é justamente a causa da infecção. Tornar a água – ou a falta dela – uma picuinha partidária é uma insanidade e colocar a culpa em São Pedro é uma covardia.

Não é a falta de chuva que nos obriga agora a engolir mais imundícies, mas é a imundície da política que nos obriga a depender dos céus como os povos do deserto. Transformamos um país tropical numa privada e fizemos isso politicamente, no exercício pleno da democracia. Não estamos divididos por convicções políticas. Fomos divididos pela mesma política que agora nos obriga a beber do esgoto. Fomos levados a acreditar que ideologias opostas nos separam enquanto na verdade todos nós morreremos no quinto dia sem água. Nas eleições fomos enganados pelo discurso que pregava a salvação pela militância, um discurso esbravejado pelos dois lados. Isso não é habilidade para tratar as relações humanas. Isso é um delírio de políticos gananciosos, de ambos os lados, desconectado da realidade biológica: sem água, morremos. Não há militância que impeça isso, não há plebiscito que modifique esta sentença.

Os índices de uma economia zumbi, a seca, os estragos provocados pela eleição e este governo já rotulado de provisório são grandes obstáculos para o próximo ano. Tudo indica que 2015 será duro, mas será ainda mais difícil porque estamos divididos politicamente. A sensatez não está na moda. Agora somos extremistas delirantes, trocamos hostilidades nas redes sociais e marchamos pelas ruas exigindo a volta da Ditadura.

Pensando bem, vamos beber a água que merecemos.
*Max Velati trabalhou muitos anos em Publicidade, Jornalismo e publicou sob pseudônimos uma dezena de livros sobre Filosofia e História para o público juvenil. Atualmente, além da literatura, é chargista de Economia da Folha de S.Paulo.
Fonte: http://domtotal.com/noticias/

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