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terça-feira, 25 de novembro de 2014

Desperdício e sustentabilidade

Marcus Eduardo de Oliveira

Enquanto a atividade econômica for guiada estritamente por valores monetários, enaltecendo que o crescimento (quantitativo) da economia importa mais que o desenvolvimento (qualitativo), será difícil alcançar com o sucesso desejado à política de sustentabilidade, ou seja, àquela política que visa diminuir progressivamente o impacto humano no quadro atual de degradação e riscos provocados por estilos de vida, consumo e de produção incompatíveis com a limitação existente de recursos naturais.

Nesse pormenor, estamos de pleno e comum acordo às afirmações de Leonardo Boff, em seu “Sustentabilidade”, (ed. Vozes, 2012): “O mundo de produção industrialista, consumista, perdulário e poluidor conseguiu fazer da economia o principal eixo articulador e construtor das sociedades. O mercado livre se transformou na realidade central, substituindo-se ao controle do Estado e da sociedade, transformando tudo em mercadoria, desde as realidades sagradas e vitais como a água, os alimentos até as mais obscenas como o tráfego de pessoas, de drogas e de órgãos humanos”.

Hoje, somente o que tem valor de mercado é o que serve para a economia. O importante, pela voz que ecoa do mercado, é produzir cada vez mais; pouco importa para quem.

Fato concreto é que, enquanto a escassez e o desperdício de certos produtos forem mantidos para que se elevem os preços, a economia de mercado, “senhora suprema” do sistema de preços e vendas, continuará ditando as regras do jogo econômico.

Especificamente no que toca à fome – um dos maiores dramas do mundo moderno – a combinação de perdas e desperdícios de comida é simplesmente alarmante e indecente, o que provoca alterações substanciais no quadro de distribuição e preços desse produto.

Dados recentes do World Resources Institute e da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) apontam que a cada cem calorias de alimentos produzidos no mundo, 24 não chegam aos pratos. Por ano, o planeta desperdiça 1,3 bilhão de toneladas de alimentos, um prejuízo de US$ 750 bilhões.

Essa comida desperdiçada poderia alimentar 2 bilhões de pessoas (28,5% da humanidade), num mundo que convive com a existência de 1 bilhão de estômagos vazios – uma em cada oito pessoas, segundo relatório da Organização das Nações Unidas (ONU).

Ao todo, 24% da produção mundial de alimentos é perdida, o que equivale a 1,5 quatrilhão de kcal. Na somatória dos fatos, o desperdício de alimentos é mais um entrave à busca pela sustentabilidade.
Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor de economia da FAC-FITO e do UNIFIEO, em São Paulo | prof.marcuseduardo@bol.com.br
Fonte: http://domtotal.com/diario_bordo/detalhes.php?diaId=393

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