É
de um simbolismo muito triste, muito sinistro ver secar a nascente do rio São
Francisco, ali no Parque Nacional da Serra da Canastra, no município de São
Roque de Minas (MG). O curso d'água até a primeira queda d'água, a Cachoeira
Casca D'Anta, só não secou totalmente porque outros tributários ainda têm
alguma água. O Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco (CBHSF) garante
que se não chover até o fim de outubro um trecho de 40 quilômetros do rio,
entre a Usina Hidrelétrica de Três Marias e o primeiro afluente, o Rio Abaeté,
poderá secar. Garantem que é a primeira vez que isso acontece e espero ser a
última. Aliás, espero mais. Espero que a nascente volte limpa e forte e que o pesadelo
da falta de chuvas acabe logo e com ele a displicência das autoridades em
relação aos problemas do abastecimento.
O
Brasil, apesar de muito alardearem o aumento de nossa consciência ambiental,
ainda está desleixadíssimo em relação ao tema. Colocamos em quinto plano a
preservação das florestas, das bacias hidrográficas, dos mananciais, da
poluição, do tratamento do lixo. O “deus consumo” quer abrir espaço para plantações,
pastagens, shopping-centers e empreendimentos imobiliários de gosto duvidoso onde
a classe média sinta-se segura rodeada de azulejos e guaritas.
Ontem
mais uma má notícia. O Brasil, que possui a maior floresta tropical do mundo,
se recusou a assinar a declaração da Cúpula do Clima em Nova York que prevê o
fim do desmatamento mundial até 2030. Isso é duplamente preocupante. Já o seria
se tivéssemos assinado porque do jeito que as coisas andam não existirão
florestas a serem preservadas até 2030. Pior ainda é não assinar sequer esse
compromisso sob o pretexto de que o documento fere a nossa legislação nacional
e não foi sequer discutido.
Esse
documento recebeu inúmeras críticas mas é ao menos um compromisso. Temos que
estabelecer pra valer uma meta de controle da poluição. Temos que desmatar
menos para sobrevivermos mais como espécie. Ou será que o melhor mesmo é
torcermos por nossa extinção, já que sem nós o planeta estaria melhor como
apregoa o sensacional livro de Alan Weisman. “O mundo sem nós”.
Por
Ricardo Soares, diretor
de TV, escritor, roteirista e jornalista. Foi cronista dos jornais “O Estado de
S.Paulo”, “Diário do Grande ABC” e “Jornal da Tarde”.
Fonte: http://www.domtotal.com.br/noticias/
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