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quinta-feira, 25 de setembro de 2014

A revolução Franciscana: adeus à impunidade

Prisão de arcebispo deixará ainda mais raivosa a oposição ultraconservadora ao pontífice.

Por Marco Politi

Aconteceu o impensável. Com o aval do papa Francisco, a prisão vaticana recebeu entre os seus presos na tarde dessa terça-feira (23) o arcebispo pedófilo Jozef Wesolowski, ex-núncio em Santo Domingo. Em junho deste ano o religioso de origem polonesa, membro do serviço diplomático da Santa Igreja, foi reduzido ao estado laico nos termos de um processo de primeira instância e o Vaticano tornou público que o caso não fora concluído, devido à necessidade de, ainda, confrontar os aspectos penais.
Mas ninguém na Cúria esperava uma ação papal tão drástica e definitiva, se avaliada com as ações seculares de interrupção da prática do sacerdócio, amenizando ou criando soluções para se evitar o rigor absoluto da lei aos criminosos de batina. “Neste momento três bispos estão sob investigação. Um deles, condenado, já está tendo sua pena estudada. Não existem privilégios sobre este tema”, declarou Papa Francisco em maio deste ano aos jornalistas quando voltou da Terra Santa. “Na Argentina – acrescentou – falamos dos privilegiados: 'este é um filhinho de papai'. O que quero dizer é que sobre este assunto não existirão filhinhos de papai”. Garantiu que todos serão tratados com tolerância zero.
Na revolução de Bergoglio a reclusão de Wesolowski surge como um exemplo. Pouco depois da sua eleição, o papa tomou conhecimento das acusações envolvendo o embaixador do Vaticano e o abuso de menores de bairros pobres de Santo Domingo. O arcebispo local, cardeal Lopez Rodriguez, confirmou a veracidade dos fatos. Francisco solicitou a presença do núncio no Vaticano em agosto. Em menos de um ano se chegou à sentença canônica. No decorrer de poucos meses será aberto o processo penal. É “vontade expressa do Papa”, frisou ontem o porta-voz papal Padre Lombardi. A iniciativa judiciária, explicou, foi tomada “uma vez que um caso assim delicado e dessa gravidade deve ser avaliado imediatamente, com o rigor necessário e, também, assumido o compromisso de uma função de imensa responsabilidade por parte das instituições que dirigem a Santa Igreja”.
Para entender o choque provocado a partir da decisão soberana do papa Francisco basta pensar no modo suave com que o papa Ratzinger tratou o caso gravíssimo – ainda mais monstruoso em relação ao caso Wesolowski – do fundador da Congregação dos Legionários de Cristo. Como cardeal e prefeito do Santo Ofício, não teve coragem de se opor ao Papa João Paulo II, que reprimia qualquer investigação sobre Marcial Maciel, predador em série e abusador dos seus próprios filhos. Como Pontífice, Ratzinger forçou Maciel a se retirar da liderança dos Legionários de Cristo, o intimou a uma vida reservada de penitência, e não tomou a decisão de processá-lo criminalmente. Na verdade, favorecendo o culpado à custa das vítimas que esperavam por justiça há décadas. Apenas na sua morte Maciel foi marcado como merecia. Mas em última instância a “Instituição” saiu-se melhor sobre o direito das vítimas de ver Maciel levado a um tribunal.
A prisão de Wesolowski deixará ainda mais raivosa a oposição ultraconservadora ao pontífice argentino, acusado de ser “excessivamente profético” e demagogo. Os próximos meses e o próximo ano serão turbulentos. Wesolowski já foi privado de imunidade diplomática. Uma vez processado e condenado a uma pena reclusiva, surgirá o problema de onde ele irá ficar encarcerado. Além da inexistência de diretrizes específicas não está excluída a possibilidade de terminar em uma prisão na Polônia. Porque já não existe mais prisão no Vaticano.

Il Fatto Quotidiano, 24-09-2014.
Fonte: http://www.domtotal.com.br/noticias/

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