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terça-feira, 1 de outubro de 2013

Grupo de Mulheres avalia participação na Marcha Mundial

A reunião semanal das mulheres do Assentamento Ursulina, em Caraúbas (RN), no último dia 05, teve um diferencial em relação às outras quintas-feiras, dia em que normalmente são realizados os encontros na associação comunitária local. É que este foi o primeiro após a chegada delas de um grande evento: o Encontro Internacional da Marcha Mundial das Mulheres (MMM), ocorrido de 25 a 31 de agosto no Memorial da América Latina em São Paulo.

Em sua primeira edição no Brasil, o encontro, que é fruto de um movimento internacional surgido há treze anos, contou com cerca de 1.600 mulheres vindas em caravanas das diversas regiões do país e de mais 48 nações, como Estados Unidos, Austrália, Moçambique, Afeganistão, Cuba e Equador. Artistas, ativistas e pesquisadoras reconhecidas em âmbito nacional e internacional estiveram discutindo e fomentando a organização das mulheres com os movimentos sociais nos meios urbanos e rurais, na luta para superarem as violências oriundas do machismo, racismo, homofobia e exploração sexual. Autonomia econômica e preservação do meio ambiente e da agricultura familiar também estiveram na pauta da Marcha.

A fim de conseguirem a estrutura necessária para o deslocamento e participação no evento, as mulheres do Oeste Potiguar se mobilizaram e contaram a colaboração das famílias e comunidades do entorno, conforme afirmou o auxiliar técnico da Diaconia na região, José Edson Silva. A instituição também apoiou diretamente a ida de 11 mulheres do Grupo, sendo 10 do município de Caraúbas e uma de Umarizal, com custeio de despesas de alimentação.

A viagem de dois dias, a distância e o frio encontrado em São Paulo não desanimaram as mulheres potiguares. Para a agricultora Maria Dilvânia Fernandes, do Assentamento Ursulina, participar da Marcha foi bastante proveitoso: “A cada viagem aprendemos mais, e isso eu repasso para as meninas do nosso grupo que ficaram na comunidade. Percebemos que muitas lá do evento não tem nem sequer o pouco que temos aqui, e ver isso é importante para valorizarmos o que temos e buscar melhorar ainda mais”, comemorou Dilvânia. Presença cativa em mobilizações nacionais como a Marcha das Margaridas, a agricultora adianta que este foi só o primeiro encontro mundial a participar: “O próximo é em 2015, em Mali, na África. Se houver vaga, com certeza eu vou.”

Momentos que receberam destaque do Grupo foram as discussões nos Painéis e Tendas da Solidariedade, com a participação de palestrantes de países como África do Sul, Angola, Argentina e Alemanha, debatendo os direitos da Mulher à saúde e liberdade, além do combate à violência e à especulação econômica em territórios indígenas e quilombolas. Também foi lembrada a marcha no centro de São Paulo, no último dia do evento, quando cerca de 4 mil mulheres encheram a Avenida Paulista com gritos de guerra, bandeiras e cartazes com as reivindicações para os direitos das mulheres. Oficinas de grafite, produção de panfletos, fanzines e faixas, comunicação pelo rádio e Internet, dentre outras técnicas, estimularam também a convergência de comunicação nos movimentos sociais.

Segundo as organizadoras nacionais do evento, a realização do 9º Encontro Internacional no Brasil tem relevância política para pensar o combate às opressões que ameaçam a vida de mulheres e homens nos contextos locais, e que acabam interligados a reivindicações globais: “As lutas são comuns. As representantes de Moçambique, por exemplo, denunciaram as políticas de controle de seus territórios, que destroem as condições de sobrevivência, produção e autonomia econômica das mulheres para beneficiar empresas como a Vale brasileira. As brasileiras estão no mesmo processo de resistência ao avanço da mineração, por exemplo, em Minas Gerais. Da mesma forma, desde as Filipinas e Bélgica, as militantes apresentaram como organizam a resistência à mercantilização do corpo, denunciando e combatendo a aumento da prostituição e tráfico de mulheres”, afirmaram, em Documento elaborado ao final do encontro.

O compartilhamento de experiências das mulheres potiguares na construção de práticas agroecológicas na contramão do agronegócio também foram citadas como enriquecedoras para o debate: “Exigimos que os recursos públicos, em particular do BNDES, não sejam destinados às grandes empresas para financiamento do agronegócio. Somos protagonistas da resistência e da defesa de nossos territórios, a exemplo das mulheres do Apodi, em luta contra o agro e hidronegócio, e da afirmação da agroecologia como meio de produção de alimentos saudáveis, fundamentais para a garantia da soberania alimentar. Construir a economia feminista e solidária significa também reconhecer e valorizar o trabalho doméstico e de cuidados como fundamentais à sustentabilidade da vida humana”, finaliza o documento.
Por Carlos Henrique Silva - Assessor de imprensa da Diaconia

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