A reunião semanal das mulheres do Assentamento Ursulina, em
Caraúbas (RN), no último dia 05, teve um diferencial em relação às
outras quintas-feiras, dia em que normalmente são realizados os
encontros na associação comunitária local. É que este foi o primeiro
após a chegada delas de um grande evento: o Encontro Internacional da
Marcha Mundial das Mulheres (MMM), ocorrido de 25 a 31 de agosto no
Memorial da América Latina em São Paulo.
Em sua
primeira edição no Brasil, o encontro, que é fruto de um movimento
internacional surgido há treze anos, contou com cerca de 1.600 mulheres
vindas em caravanas das diversas regiões do país e de mais 48 nações,
como Estados Unidos, Austrália, Moçambique, Afeganistão, Cuba e Equador.
Artistas, ativistas e pesquisadoras reconhecidas em âmbito nacional e
internacional estiveram discutindo e fomentando a organização das
mulheres com os movimentos sociais nos meios urbanos e rurais, na luta
para superarem as violências oriundas do machismo, racismo, homofobia e
exploração sexual. Autonomia econômica e preservação do meio ambiente e
da agricultura familiar também estiveram na pauta da Marcha.
A
fim de conseguirem a estrutura necessária para o deslocamento e
participação no evento, as mulheres do Oeste Potiguar se mobilizaram e
contaram a colaboração das famílias e comunidades do entorno, conforme
afirmou o auxiliar técnico da Diaconia na região, José Edson Silva. A
instituição também apoiou diretamente a ida de 11 mulheres do Grupo,
sendo 10 do município de Caraúbas e uma de Umarizal, com custeio de
despesas de alimentação.
A viagem de dois dias,
a distância e o frio encontrado em São Paulo não desanimaram as
mulheres potiguares. Para a agricultora Maria Dilvânia Fernandes, do
Assentamento Ursulina, participar da Marcha foi bastante proveitoso: “A
cada viagem aprendemos mais, e isso eu repasso para as meninas do nosso
grupo que ficaram na comunidade. Percebemos que muitas lá do evento não
tem nem sequer o pouco que temos aqui, e ver isso é importante para
valorizarmos o que temos e buscar melhorar ainda mais”, comemorou
Dilvânia. Presença cativa em mobilizações nacionais como a Marcha das
Margaridas, a agricultora adianta que este foi só o primeiro encontro
mundial a participar: “O próximo é em 2015, em Mali, na África. Se
houver vaga, com certeza eu vou.”
Momentos que
receberam destaque do Grupo foram as discussões nos Painéis e Tendas da
Solidariedade, com a participação de palestrantes de países como África
do Sul, Angola, Argentina e Alemanha, debatendo os direitos da Mulher à
saúde e liberdade, além do combate à violência e à especulação econômica
em territórios indígenas e quilombolas. Também foi lembrada a marcha no
centro de São Paulo, no último dia do evento, quando cerca de 4 mil
mulheres encheram a Avenida Paulista com gritos de guerra, bandeiras e
cartazes com as reivindicações para os direitos das mulheres. Oficinas
de grafite, produção de panfletos, fanzines e faixas, comunicação pelo
rádio e Internet, dentre outras técnicas, estimularam também a
convergência de comunicação nos movimentos sociais.
Segundo
as organizadoras nacionais do evento, a realização do 9º Encontro
Internacional no Brasil tem relevância política para pensar o combate às
opressões que ameaçam a vida de mulheres e homens nos contextos locais,
e que acabam interligados a reivindicações globais: “As lutas são
comuns. As representantes de Moçambique, por exemplo, denunciaram as
políticas de controle de seus territórios, que destroem as condições de
sobrevivência, produção e autonomia econômica das mulheres para
beneficiar empresas como a Vale brasileira. As brasileiras estão no
mesmo processo de resistência ao avanço da mineração, por exemplo, em
Minas Gerais. Da mesma forma, desde as Filipinas e Bélgica, as
militantes apresentaram como organizam a resistência à mercantilização
do corpo, denunciando e combatendo a aumento da prostituição e tráfico
de mulheres”, afirmaram, em Documento elaborado ao final do encontro.
O
compartilhamento de experiências das mulheres potiguares na construção
de práticas agroecológicas na contramão do agronegócio também foram
citadas como enriquecedoras para o debate: “Exigimos que os recursos
públicos, em particular do BNDES, não sejam destinados às grandes
empresas para financiamento do agronegócio. Somos protagonistas da
resistência e da defesa de nossos territórios, a exemplo das mulheres do
Apodi, em luta contra o agro e hidronegócio, e da afirmação da
agroecologia como meio de produção de alimentos saudáveis, fundamentais
para a garantia da soberania alimentar. Construir a economia feminista e
solidária significa também reconhecer e valorizar o trabalho doméstico e
de cuidados como fundamentais à sustentabilidade da vida humana”,
finaliza o documento.
Por Carlos Henrique Silva - Assessor de imprensa da Diaconia
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