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sábado, 23 de agosto de 2014

Agroecologia foi ponto de debate no intercâmbio entre Rio Grande do Norte e Paraíba



Agricultores do Seridó
Nos dias 21 e 22 de agosto, os agricultores de São João do Sabugi, São Vicente e Caicó participaram do Intercâmbio Interestadual do Programa Uma Terra e Duas Águas, realizado pelo Serviço de Apoio aos Projetos Alternativos Comunitários (SEAPAC), com o apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES). O objetivo foi incentivar as práticas para geração de renda e melhoria na qualidade de vida das famílias que conquistaram as cisternas e barreiros trincheira.
O dia já estava claro quando os agricultores saíram para dar início a viagem que duraria quatro horas e meia até o destino final, Solânea, localizada na região do Brejo, na Paraíba. Todos estavam ansiosos para a chegada e, com conversas animadas, seguiram compartilhando diversas histórias com os colegas.
O cenário foi mudando a cada quilômetro, o frio tomou conta da serra e das cidades que antecediam o destino principal, até que avistaram o primeiro sinal da cidade paraibana. Os agricultores foram recebidos com chuva, e os sorrisos se espalharam pelo ônibus quando foi avisado que a primeira parada seria para o almoço.
Depois de saciados, as visitas começaram na sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Solânea, para uma breve explicação sobre os projetos realizados nas comunidades. O presidente do Sindicato, Josenildo Costa, a secretária, Maria do Céu, e o representante da Comissão de Recursos Hídricos, Antônio José, fizeram uma explanação do funcionamento das ações no local, além de manter todos informados sobre as divisões da cidade em Brejo da Fruta, Brejo do Roçado e Agreste, cada uma com suas particularidades no clima e na vegetação.
A luta pela agroecologia é marca registrada na região. Os programas para o desenvolvimento da prática são incentivados pelas comissões que fazem parte do Pólo de Sindicatos da Região da Borborema, totalizando 15 sindicatos divididos pelas cidades da região.

As primeiras experiências

Após a conversa no sindicato, chegou o momento de conhecer, na prática, como aconteciam as ações. Todos se dirigiram para a comunidade Salgado de Souza, localizada em Brejo do Roçado, também conhecido por Curimataú, e que chama atenção pela diferença climática. Apesar de ficar a pouco mais de 20km de Brejo da Fruta, apresenta as características do semiárido seco.
Seu Luiz explicando sobre o reflorestamento
Guiados por Edvanildo Pereira, que trabalha no apoio aos projetos desenvolvidos pelo sindicato, os agricultores seguiram na estrada de terra até chegar na casa do senhor Luiz Souza e da esposa, Eliete Pereira. Seu Luiz é conhecido pela prática do reflorestamento em sua propriedade e contou aos colegas visitantes que, quando chegou nas terras onde mora, o solo era enfraquecido pela devastação e plantio excessivo de grãos, além da criação de gado, que prejudica a terra com o pisoteio.
Sabendo disso, depois de passar por algumas atividades de aprendizagem com manejo da terra, seu Luiz e dona Eliete se conscientizaram e decidiram colocar em prática o reflorestamento com plantas locais, trazendo a fertilidade de volta para a terra.
Palma, juazeiro, agave, umburana, angico, barriguda, sabiá, leucena e sorgo são algumas das plantas que foram utilizadas para a prática do reflorestamento, dando destaque para a gliricídia que é utilizada para cercas vivas, junto com o mandacaru, e atua na melhoria da qualidade do solo.
Seu Luiz também faz o plantio da roça, cria animais, mantém o cultivo de uma horta com diversas espécies de plantas medicinais e frutíferas. Ele ainda cuida do processo de estocagem de forragens, fazendo silagem do milho, palha de milho, folha da gliricídia, capim elefante, sorgo e maniçoba.

Dona Irene das plantas

A segunda visita do dia foi na casa de Irene Teófilo Barbosa, mais conhecida como Irene das plantas, na comunidade de Bom Sucesso, ainda na região do Curimataú. Dona Irene é conhecida pela diversidade de plantas ornamentais que produz na sua propriedade. Ela contou que o número de variedades se deve ao fato de trocar as espécies de plantas com as amigas. Irene e o marido, José Pedro Barbosa, vendem as plantas para complementar a renda da família, composta pelo casal, a mãe dela e mais dois filhos.
Dona Irene e seu marido José Pedro
No quintal de dona Irene também encontra-se variedades de pés de frutas. Carambola, caju, romã, manga, abacate, pinha, laranja, acerola, goiaba, pitanga, mamão e graviola são algumas que podemos encontrar, além das plantas medicinais que, em sua maioria, são plantadas ao redor da cisterna calçadão.
As agricultoras e agricultores potiguares logo se entusiasmaram, e fizeram compras de mudas para plantarem em suas casas, quando retornassem de viagem. Após as visitas, todos foram levados ao hotel para tomar banho, jantar e descansar para a programação do próximo dia.

Segundo dia

Depois do café da manhã reforçado, chegou a hora de seguir com as visitas. A primeira parada do dia foi na Feira de Agricultura Familiar, que é realizada toda sexta-feira, em uma parceria do sindicato e com os agricultores locais.
Os potiguares se alegraram com a iniciativa, garantindo logo o feijão verde e os legumes do almoço no dia seguinte, em casa, com suas famílias. A diversidade era grande. Banana, acerola, coentro, espinafre, brócolis, alface, macaxeira e inhame eram alguns dos produtos oferecidos pelos agricultores locais.
Quando terminaram suas compras, os agricultores se dirigiram às últimas visitas que, dessa vez, seriam realizadas em Brejo da Fruta.

Penha e dona Benta

Descendo a Ladeira do Sabiá, passando pela Chã de Santa Tereza, o próximo destino seria o Sítio Videl para conhecer outra Maria da Penha. A paisagem chamava a atenção dos potiguares. As serras apresentavam uma vegetação verde e enchia os olhos dos visitantes com a beleza local.
Maria da Penha explicando o manejo das mudas
Lá, os agricultores foram recebidos com muita alegria por Penha e sua mãe, dona Benta, que falaram sobre a dificuldade do cultivo na região. Apesar de apresentar mais umidade, a terra não era fértil devido o desmatamento na região e foi necessário o reflorestamento e o cuidado com o solo para que voltassem a cultivar.
Hoje, a plantação foi melhorada, a família garante a produção de várias espécies de frutas, hortaliças, leguminosas e raízes. Dona Benta, emocionada, diz que se sente feliz com tudo, e que a visita dos agricultores de outras regiões é uma forma de reconhecimento do trabalho feito pela família. “É muito bom saber que deu certo. Quando vem gente de outros lugares ver o que a gente fez, fico muito feliz em ver que eles estão gostando do nosso trabalho”, relatou.
Uma das experiências desenvolvidas na região também pode ser acompanhada na casa da família: o fogão agroecológico, que utiliza pequenos gravetos para o funcionamento, além da baixa emissão de fumaça no meio ambiente.
Ao fim da visita, um lanche foi oferecido, fruto da produção do roçado de Benta, Penha e seu pai, Severino. Bolo de cenoura, pão caseiro, biscoitos, suco de limão com capim santo, chá e café foram saboreados ao longo de conversas e risadas.

Viveiro Comunitário

A última parada foi no Viveiro Comunitário do Videl, junto com Penha, que também é representante do projeto, onde os participantes puderam conferir mais uma iniciativa que busca reafirmar o compromisso com o reflorestamento.
Várias mudas de plantas foram adotadas pelos agricultores do Seridó, que prometeram cuidar delas em seus quintais para, no futuro, colher os bons frutos da agroecologia.
Viveiro Comunitário
Ao término, todos voltaram à cidade para uma avaliação final. Eles se mostraram satisfeitos com a visita e tudo o que foi aprendido durante o intercâmbio.
Depois do almoço, a ansiedade para o retorno às suas casas era grande. Eles teriam muitas histórias para compartilhar com os familiares, além dos planos para as novas práticas agroecológicas, que agora seriam colocados em prática.

Para seu Inácio Loiola, de São João do Sabugi, as experiências rederam boas ideias que começariam a fazer parte do cultivo em sua terra. Ele voltou, o caminho inteiro, discutindo com os novos amigos, de Caicó e São Vicente, sobre as técnicas que iam melhorar o plantio e a criação de animais na região do Seridó. “São muitas ideias que podemos trazer para a prática. Não há terra ruim, a questão é só o manejo e as novas possibilidades de melhoria”, afirmou.

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