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quinta-feira, 9 de outubro de 2014

A péssima cobertura das eleições

O 'momento do jornalismo político no Brasil é dos piores possíveis
Por Ricardo Soares*

Os prezados leitores já devem estar enfadados do assunto "eleições" mas hoje, independente dos vencedores e derrotados, não há como fugir ao tema. Problema? Não sei. Só sei que gostaria de registrar mais uma vez minha tristeza em relação à cobertura jornalística das eleições, que me parece cada vez mais pobre, repetitiva, eivada de clichês e se limitando quase que sempre a acompanhar a agenda dos candidatos.

O tal "momento do jornalismo político no Brasil" é dos piores possíveis e, por sorte, tem sido discutido em fóruns acadêmicos e até por portais de comunicação, como o fez recentemente o "Comunique-se". Um dos pontos que eles apontaram para tamanhas mazelas é, paradoxalmente, o excesso de colunistas opinativos. É isso aí! De que adianta ter uma plêiade de desqualificados a opinarem? De onde eles tiram suas opiniões? Dos cafezinhos que tomam com os políticos de Brasília e de todas as províncias? Do uso que fazem deles os políticos, ao se fazerem de fontes para passar apenas informações que lhes interessem?

Cito um exemplo de um conhecido canal de notícias. Ali "senhouras" bem vestidas, de terninhos bem cortados, fazem uma barreira de contenção para colocar em pauta, dia após dia, apenas temas politicamente aceitáveis que não constranjam gregos e nem troianos. Forçam um conhecimento que não possuem, passam horas debatendo bolinhos de vento como as curvas ascendentes e descendentes das pesquisas e por aí navegam a enganar os incautos. Cadê consistência de verdade? Cadê a leitura antropológica, sociológica ou histórica do momento que vivemos? Necas. A nossa cobertura jornalística das eleições, antes e depois delas, é a mesma variação sobre o mesmo tema, recheada das expressões surradas como "espetáculo do civismo", “festa cívica”  e demais balelas.

Por sorte, nesses seminários e discussões que discutem o péssimo nível da nossa cobertura eleitoral também vem à tona a hedionda má formação dos jovens profissionais da mídia que, salvo raras exceções, pretendem trabalhar em eleições e cobertura política lendo apenas os péssimos articulistas de sempre. Faltam-lhes leitura, repertório, formação. Sequer um Maquiavel básico eles conhecem. São reféns de qualquer dado que qualquer idiota lhes apresente porque não sabem sequer em que país vivem. Lamento se isso parece pessimismo. É realismo. Mais uma prova inequívoca de que o jornalismo, tal qual o conhecíamos, está morto. Mas, creio, pode ser reinventado. Mas, por favor, corram para os livros, minha gente. Sejam eles analógicos ou digitais. Como dizia o  velho Lobato, "um país se faz com homens e com livros". E não com meros achismos.
*Ricardo Soares é diretor de TV, escritor, roteirista e jornalista. Foi cronista dos jornais "O Estado de S. Paulo", "Jornal da Tarde" e “Diário do Grande ABC”. Um dos criadores e primeiro apresentador do programa “Metrópolis” da TVCultura.
Fonte: http://domtotal.com/noticias/

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